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Robôs não conseguem contar histórias (ainda): a demanda por profissionais criativos

profissionais criativos

Os robôs vão roubar os nossos trabalhos como profissionais criativos (no meu caso, como storyteller para marcas)? Essa é uma pergunta estranha, mas que pipocou na minha mente há pouco tempo quando participei de um evento de tecnologia para Marketing.

Muitos dos expositores dessa conferência eram focados em automação de marketing. Entre outras funções, eles podem ajudar você a engajar visitantes em seu site com um amigável chatbot (um robô que faz e responde perguntas); podem ajudar a retomar contato por e-mail com antigos prospects utilizando Inteligência Artificial para customizar mensagens e respostas (novamente, engajamento robot-driven); algumas empresas até mesmo usam IA pra agendar reuniões com potenciais clientes, levando-me a perguntar: “Seu Robô, você consegue me conectar com o seu chefe humano?”

Inteligência Artificial conquista o mundo

Talvez sem surpresa, as Martechs (empresas que desenvolvem Tecnologia para Marketing) estão apaixonadas por temas como automação, Inteligência Artificial, machine learning, algoritmos e robôs. Eu entendo e de forma alguma sou contra a tecnologia. Na verdade, uso constantemente ferramentas digitais no meu trabalho de contar histórias sobre marcas.

Na verdade, as utilizo de forma prudente, pensando profundamente no que preciso fazer manualmente e no que posso fazer de maneira mais eficaz com uso de tecnologia. Penso em mim mesmo como um liquidificador misturando “humano + tecnologia”, tentando tirar o melhor de cada um.

Por isso, voltando ao evento, se você quiser torturar um fornecedor dessas ferramentas de Marketing focadas em IA, pergunte a ele: “como um profissional criativo deveria avaliar em sua solução quais as funções seriam feitas pelas máquinas e quais seriam feitas manualmente?”. Quando fiz essa experiência, nenhum deles conseguiu fornecer uma resposta coerente ou mesmo chegou a considerar a questão. Eles sugeriram que automatizasse tudo, incluindo pesquisa, redação e edição das minhas histórias.

Bem, eu não estou disposto a entregar o meu sustento a um robô.

A complexidade na elaboração de histórias humanas

Eu descrevi a um fornecedor dessas ferramentas como eu criava histórias para meus clientes B2B. Expliquei como trabalho para entender os objetivos estratégicos de cada um, perguntando o que o cliente quer que o público sinta e faça depois de ler a história.

A seguir, eu cuidadosamente coleto e reúno fontes de informação/dados e materiais de histórias (entrevistando especialistas, pesquisando online, etc.), então analiso cada componente para decidir como eles podem ser integrados de forma ideal em uma história que atenda aos objetivos do cliente. Depois, construo a história e analiso se ela está “funcionando” ou não, modifico e reviso (e durmo nela), colaborando com meu cliente até ficarmos felizes com a coisa toda.

O vendedor ouviu com atenção, surpreso com a complexidade e a natureza subjetiva de cada etapa do processo criativo. “Sou o filtro, aquele que faz essas chamadas difíceis quando surgem escolhas criativas”, eu disse a ele, “e toda história é diferente, porque todo contador de histórias tem um filtro diferente criado por sua experiência de vida”.

Ele parou por um momento e, eu acho (ou espero), que tenha aprendido algo sobre a criação de histórias para marcas e sobre o trabalho de profissionais criativos.

Os limites da automação e da IA

Você não pode automatizar tudo – por enquanto, pelo menos. Você não pode permitir que um algoritmo, por mais brilhantemente projetado que seja, tome as decisões criativas mais importantes em Marketing. As pessoas são importantes porque trazem surpresa, emoção, profunda conexão humana e os mistérios da expressão criativa.

Cada história representa um mistério, um enigma, uma longa jornada para encontrar significado, ressonância, beleza e propósito. O objetivo de cada história é a conexão humana (como o romancista E.M. Forster aconselhou, “somente conecte-se”). Coisas difíceis de automatizar.

Eu não quero ler uma história montada, estruturada e trabalhada por um robô que foi projetado por uma equipe de engenheiros e matemáticos, não importa o quão brilhante sejam esses cientistas. Histórias são as interações mais profundamente humanas que temos, não apenas pela forma como o contador de histórias confronta o material e expressa o significado através de seu próprio filtro, mas também pela misteriosa interação entre a história “acabada” e o leitor que interage com ela.

Não ouvi nenhum desses pensamentos na conferência que fui, exceto quando ouvi minha própria voz falando em uma confusão de vendedores entregando chaveiros. Talvez esteja sendo muito duro com esses fornecedores de tecnologia. Eles são, obviamente, mentes técnicas de ponta, mas algumas coisas não podem ser hackeadas, automatizadas ou sujeitas a um algoritmo – incluindo a mágica da história.

Desculpa, robôs. Vocês não estão prontos para o horário nobre.

Sou uma pessoa profundamente humana e emocional e, a propósito, um contador de histórias sobre marcas. Tenho apenas uma função como profissional de marketing, criando histórias que se conectam.

Isso pode parecer simples, mas, na verdade, é o trabalho mais complicado do mundo. Depois das minhas três horas vagando pela conferência de Marketing, não estou preocupado que um robô ou algoritmo roubem meu trabalho de contar histórias. Muito pelo contrário, vejo agora meu trabalho como mais importante, vital e profundamente humano do que nunca.

E peço desculpas aos meus leitores robôs que podem ter se sentido ofendidos ao ler isso: vocês não são suficientemente humanos para mim. Pelo menos não ainda.

Post originalmente publicado no blog Freelancers Union, traduzido e adaptado com autorização do autor, Chuck Leddy.

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